Salvar vidas. Há 20 anos, completados neste domingo (24), essa é a principal meta dos 513 servidores da Secretaria de Saúde (SES-DF) lotados no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência do Distrito Federal (Samu DF). O grupo de profissionais atua 24 horas por dia, com cerca de 186 acionamentos diários — aproximadamente 7,5 por hora —, o que representa mais de 68,6 mil ocorrências em um ano.

E essa é apenas uma parte do serviço. O telefone 192 não para. Dez atendentes, chamados pela sigla Tarm (de Técnico Auxiliar de Regulação Médica), estão na linha de frente do atendimento. Em um tempo médio de 97 segundos, eles identificam paciente, solicitante, endereço e característica principal da ocorrência.
Em seguida, a chamada vai para um dos seis médicos reguladores que, em cerca de 127 segundos, decidem que tipo de suporte será enviado: uma das 38 ambulâncias, uma das 11 duplas de motolâncias espalhadas por 22 bases no DF ou mesmo a equipe de suporte aeromédico, que voa em helicópteros do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal. Esse trabalho de comando e controle é realizado em uma sala localizada na Central de Regulação Médica de Urgências, sede do Samu DF, no SIA.
"O Samu hoje é visto como recurso essencial para a população, e o profissional aqui veste a camisa, é um profissional que tem uma missão, tem um grupo de valores", afirma o diretor do Samu DF, Victor Arimatea. O sentimento de dever a ser cumprido se espalha pela equipe. "É difícil não vestir esse macacão com muito orgulho", completa a médica Larissa Michetti, que já atuou tanto a bordo de helicópteros e ambulâncias quanto na regulação de casos.
Gestante, a servidora da SES-DF está afastada das ruas, mas mantém o mesmo espírito ao receber ligações telefônicas. Às vezes, o atendimento se prolonga. "Há casos de parada cardiorrespiratória em que você fica no telefone até a equipe chegar", conta. Em outras situações, ciente de onde está cada ambulância, ela permanece na linha enquanto o paciente é levado até um hospital próximo. "Orientar sobre como deve ser colocado o paciente em um carro e passar a informação para onde ele deve ser levado é uma conduta médica", explica.
Apesar de nenhum dia ser igual ao outro, a experiência em jornadas de trabalho ajuda a criar alguns padrões de atendimento. "O perfil da noite de Natal é mais para pacientes cardiopatas, antes e durante a ceia, às vezes por conta de brigas de família. Já a noite do Réveillon é muito agitada, sobretudo depois da meia-noite", exemplifica. Na rotina diária, perguntas específicas ajudam a traçar o perfil das ocorrências.
Uma das opções à disposição dos médicos reguladores é o atendimento em saúde mental. "Nós fazemos a escuta e ajudamos na solução do caso", conta a psicóloga Marina Dias. Ela pode tanto conversar com pacientes ao telefone quanto orientar outra pessoa. "Uma vez, fui fazer uma palestra e, ao final, fui abordada por uma professora que eu havia orientado a como ajudar um estudante", lembra.
O serviço funciona 24h e realiza atendimentos de urgência e emergência em qualquer lugar, como residências, locais de trabalho e vias públicas, mediante acionamento pelo telefone 192
Nem sempre, porém, as ligações trazem histórias positivas. Somente em 2024, o Samu DF recebeu 9.495 chamadas classificadas como engano, 27.972 pedidos de informação e 7.313 trotes. "A gente fica com raiva. Quando é trote, a pessoa já fala uma besteira ou fica só calada. Tem uma pessoa, que até já bloquearam o número, que ligava e ficava sussurrando", revela o supervisor dos Tarm, Diego Sampaio.
O próprio sistema eletrônico já começou a barrar trotes automaticamente, com base em alguns perfis de ligação. No ano passado, foram 5.391 chamadas bloqueadas. Isso ajudou a reduzir o problema, já que em 2021 foram 68.002 ligações falsas. Essas ocorrências são tratadas como ameaças ao serviço, pois, além de atrapalhar os operadores, podem congestionar a linha e impedir o atendimento real.
Em casos mais extremos, ambulâncias chegaram a ser enviadas para ocorrências inexistentes. "Temos observado uma redução no número de trotes. Mas nosso objetivo não é ficar satisfeito com redução grande, é ter o trote zero", afirma o diretor do Samu DF.

Investimentos
A importância do Samu DF tem se refletido em projetos de expansão. "Precisamos acompanhar o desenvolvimento das regiões administrativas e ter bases posicionadas no território de forma a reduzir o tempo de resposta", explica Victor Arimatea. Nos últimos cinco anos, foram criadas novas bases no Plano Piloto (Asa Norte), em Taguatinga (QNJ), Águas Claras e Samambaia. Já há projeto para construção de outras cinco, em Sobradinho, Ceilândia, Guará, Riacho Fundo II e mais uma no Plano Piloto.